Por César Modesto
Alguns serviços de saúde são inexistentes em zonas rurais e cidades pequenas, o que força quem vive nesses lugares a se deslocar para os centros urbanos. Isso porque as regiões afastadas das grandes cidades, geralmente, carecem de especialistas e hospitais locais.
Também há pessoas acometidas por doenças crônicas, com mobilidade reduzida ou outros fatores que dificultam ou impossibilitam a ida para uma unidade de saúde, seja em busca de atendimento ou para dar continuidade a um tratamento.
Por outro lado, as tecnologias de informação e comunicação, como o smartphone ou computador com acesso à internet que permite a leitura deste texto, evoluíram bastante e têm provocado mudanças profundas na sociedade, mercado e em várias áreas do conhecimento.
No passado, a troca de informações e laudos médicos remotamente, assim como o acompanhamento e tratamento de pacientes, era possível via telégrafo elétrico, depois por telefone, fax e rádio, no decorrer dos séculos XIX e XX. E embora já representasse uma mudança de paradigma, faltava tempo hábil para se tornar, de fato, um modelo viável.
Até que, desde o início do século XXI, com o advento das novas tecnologias e investimento em infraestruturas de redes, o acesso à saúde vem passando por grandes transformações.
As barreiras geográficas, por exemplo, foram encurtadas a um toque ou clique na tela, e em tempo real, tornando rotina atividades como fazer videoconferência e enviar arquivos para alguém que está do outro lado do mundo. E a área da saúde tem se beneficiado muito disso.
Com o avanço da tecnologia, este cenário inédito que se formou possibilitou o surgimento de um novo modelo de prestação de serviços em saúde, seguro e eficaz: a telemedicina.
Telemedicina é o oferecimento de assistência médica e acesso às especialidades em saúde, à distância, por meio das tecnologias de comunicação. Telessaúde é o mesmo conceito, ampliado para todos os serviços de saúde, em geral.
Isso significa que qualquer pessoa, o que inclui aquelas que vivem em lugares isolados e os pacientes crônicos, pode ser atendida remotamente. Para isso, basta ter acesso a algum equipamento conectado à internet, mas que sirva para comunicação, como computadores, notebooks, tablets e smartphones.
É claro que muitos diagnósticos ainda exigem consultas e exames presenciais, mas o simples fato de poder iniciar e dar seguimento a tratamentos médicos apesar da distância é, por si só, um avanço considerável e com forte impacto na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes.
Vale ressaltar que a pandemia de coronavírus, em 2020, foi a maior responsável pelo impulsionamento da modalidade. Essa emergência sanitária global expôs a fragilidade e a falta de planejamento de muitos países, que precisavam de soluções imediatas para a manutenção dos serviços de saúde e a redução dos riscos de exposição, e a telemedicina era perfeita para isso.
Desde então, teletriagem, teleconsulta, teleinterconsulta, telecirurgia, telediagnóstico, telemonitoramento e vários outros teles passaram a fazer parte do vocabulário de muitos profissionais da saúde e pacientes durante o período, apesar da telessaúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já ser exercida desde 2007.
Com o fim da pandemia, os benefícios da telemedicina eram evidentes. Por isso, vários países, inclusive o Brasil, têm criado e adotado estratégias que assegurem a modalidade, como legislação e fiscalização, infraestrutura tecnológica, privacidade e segurança dos dados, entre outros.
Somente para a estratégia de transformação digital do SUS, por exemplo, o Governo Federal, pelo Ministério da Saúde, já investiu recursos na ordem de 460 milhões de reais.
Além disso, para efeito de comparação, segundo dados da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde), entre os anos de 2020 e 2022 foram realizadas cerca de 11 milhões de teleconsultas, enquanto que, em 2023, o número foi de 30 milhões, um crescimento de 172%.
Esse aumento expressivo pode ser visto como um reflexo da regulamentação da prática no país, através da Lei nº 14.510, de 27 de dezembro de 2022.
E agora, a implementação das inteligências artificiais é o novo território sendo explorado pela área da saúde. Automatização de tarefas como anamnese e triagem, identificação de padrões e sintomas, e análise e comparação de grandes volumes de dados para diagnósticos mais precisos são alguns exemplos que podem tornar a telemedicina um novo pilar da saúde, futuramente.
Referências:
- Lei nº 14.510/2022
- SUS Digital: estratégia do Ministério da Saúde amplia acesso da população às informações de saúde e inicia a implantação de prontuário unificado
- Ministério da Saúde estuda inclusão de inteligência artificial no SUS
- Governo Federal regulamenta Telessaúde e amplia acesso à saúde em áreas remotas do Brasil
- Telemedicina no acesso à saúde durante a pandemia de covid-19: uma revisão de escopo
- A história da telemedicina no Brasil: desafios e vantagens