Por Ana Negreiros
Os anos passam, a sociedade evolui e a percepção sobre a área de comunicação ainda é um ponto de discussão e de desentendimento.
Isso acontece porque há décadas colocou-se a comunicação como uma área de apoio, com perfil tático, sendo totalmente operacional e até mesmo braçal. E neste caso, os produtos publicados pela área geralmente ganham um diminutivo. São os chamados jornaizinhos, as artezinhas, o textinho, o videozinho, a materiazinha. Tem também a tradicional frase: chama a comunicação para fazer a fotinha!
Como o nome da área está misturado ao processo, o conceito de que comunicação é feita por todos acaba sendo misturado ao de que qualquer um faz comunicação. E aí começa o problema.
A comunicação precisa ser de todos para todos. Sim, precisa! Ela deve ser cocriada. Sim, deve! Então, todos fazem comunicação? Não!
Saber ouvir, falar, disseminar conceitos e informações, dialogar, são elementos essenciais na comunicação enquanto processo. E neste caso, requer a integração e participação de todas as partes interessadas.
Agora, para ser parte e atuar como protagonista, requer a existência de um sistema integrado da organização que oriente papéis, defina canais e instrua como se relacionar com cada parte envolvida. E isso é feito com política de comunicação, fluxos, guias e diretrizes que auxiliam sobre como, quando e onde atuar.
Mas será que comunicação é realmente serviço braçal?
Dominique Wolton já dizia que comunicar é ir além de informar. É gerar entendimento. E fazer isso requer bem mais do que um aplicativo grátis, saber usar um programa de design gráfico e escrever bem.
É comum nos depararmos com palavras juntadas, por beleza e rima, ou também, para simplesmente informar de forma crua. Nestes casos, observa-se que a análise do cenário, o conhecimento sobre o público e até mesmo o objetivo sequer foram levados em conta. Bem como, a checagem do momento e o impacto que irá causar.
Fatos assim ocorrem porque as pessoas preferem usar da comunicação para falar, deixando de fora do processo o entender o significado. É nesta hora que as chances de nascer uma crise aumentam. E, quando elas surgem, a área de comunicação, esquecida do seu papel de comunicar, é chamada para sua outra função, a de bombeiro… O fogo já tomou conta e é preciso controlar as chamas.
Enquanto a comunicação for colocada na caixinha operacional, no tático e braçal, as organizações estão ampliando suas vulnerabilidades e deixando de gerir o risco de imagem. Elas estarão apenas marcando presença e, consequentemente, sendo posicionadas. Mal.
Mas este é um tema para a minha próxima coluna, quando tratarmos de comunicação estratégica. Até lá, lembre-se de que antes de fazer uma artezinha, é preciso se perguntar:
– Para quem vamos falar?
– Como essas pessoas se comunicam?
– Com quem elas se relacionam?
– Qual é o perfil delas?
– O que queremos dizer?
– O que desejamos alcançar?
– Como está sendo abordado este tema pelo meu concorrente?
– Em qual momento a minha organização vive e qual a região em que estamos inseridos?
Comunicando a gente se entende, desde que saibamos o que queremos comunicar, para quem, quando e onde!
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Ana Negreiros é gestora de Comunicação Estratégica Integrada e gerenciadora de crises. Especialista em Comunicação do Risco com trabalho focado na cultura do cuidado.
*Texto publicado originalmente no Site Observatório da Comunicação